sábado, julho 28, 2007

Poesia de amor

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Que ventos sopra a
poesia
para esses lados?
Ventos de Eros
Vênus
ou de pressa
aporrinhação
e outros venenos?

Parece inclusive
já esta no catálogo de patologias registradas:
poesia precoce:
há provas palpáveis
letras
título
autor até
mas falta o gozo
do outro da relação...

Ah, a agudez do encontro
o desejo em riste
a monomania deletéria efêmera
do corpo alheio
e o vocabulário tão mais simples dos amantes
cheio de brutos silêncios:
a boa e velha poesia
esta sim
necessária à preservação da espécie.

(E no fim, a eternidade...)

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terça-feira, julho 24, 2007

A Perdida

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A poesia é a criança
pequena que se perdeu no parque
e urge achar os responsáveis
e investe as esperanças nos corações
e mãos de homens
e mulheres transeuntes
e aos seus ouvidos berra
e chora
e sapateia
o poema...

(Quer voltar pra casa, há séculos...)

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As vinganças e suas pequenas grandes desproporções

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Ele disse que
eu ficava tão linda
sem sorrir
:
valorizava a melancolia inerente
aos meus olhos
sempre úmidos...

Desconfiei de algo com os meus dentes tortos

Suas últimas palavras foram
"no cu não!"

(Acho que nunca rirei tanto)

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terça-feira, julho 17, 2007

Vinho

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Ah, maldito seja o vinho
que acaba,
como a poesia que nos embriaga
e passa eras sem exalar seu vapores,
maldita a carne que se insinua
e não se revela:
quiçá o exemplo mesmo da permanência...

Maltitos sejam os poetas malditos
e os escomungados que usam essa palavra
maldita
quando o que os acalenta é a ternura simples do olhar faminto
de cumplicidade
que só aos desejosos -
os poetas -
é dado conhecer...

Maldita seja a memória que esqueceu que o assunto
é vinho
e que ao contrário do vinho
só piora com o tempo
enquanto a poesia,
ah, a poesia,
se insinua em contornos táteis
inescrupulosamente
permanentes...

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terça-feira, julho 10, 2007

De Passagem

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Deixo de passagem
um beijo
na abscuridade do abismo
peço
perdão
pela
pressa
"mas pra semana prometo talvez nos vejamos quem sabe"...

Deixo de passagemo
olhar das mães órfãs
que sempre esperam
sempre esperam
sempre esperam...

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quarta-feira, julho 04, 2007

A linha debaixo

Vem da linha debaixo o desejo
de cobri-la (descobri-la),
linha branca que esconde
os sonhos ainda não tidos,
a palavra que urge sair,
o retrato da musa que encontraremos
ao irmos embora daqui

Deve-se à linha branca, vazia,
como a um mundo de outras coisas,
o poema...
Está na linha em branco o desenho
dos seios roliços firmes volumosos pululantes no decote
e a indefinível dor que coisas como essas causam,
como fosse todo o verbo sobre a vida
e os demais mistérios
não mais que uma linha em branco
prolixa em seu desrumo

A linha de baixo é a linha de chegada
da próxima idéia,
que às vezes teima, teima, teima...
A concisa expressão da odisséia,
a catástrofe pressentida,
a fadiga do dia,
a ansiedade da estréia,
a pontinha de inveja
e a pequena saudade que deixa a finda poesia



Leonardo M. Paredes